Relato de Parto Domiciliar

quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Olá! Hoje no nosso blog teremos um lindo e emocionante relato de parto da Juliana. Eu li e achei maravilhoso! Leia também, principalmente se você estiver grávida e ainda não decidiu o seu tipo de parto.
Ela também fez um vídeo se você quiser assistir é só clicar neste link aqui.
A Juliana é editora e fundadora do Portal Tudo para Vegetarianos, vale a pena conferir: www.tudoparavegetarianos.com.br


Relato de Parto Domiciliar
Juliana / Ana Clara
24/08/2013

Eram 3 horas da manhã de sexta-feira (23/08). Acordei com um gato de rua miando no meu quintal. Já estava chegando a 41 semanas de gestação e a ansiedade era grande. Lembro que rolei na cama pensando mil coisas, até que senti a primeira onda chegando. Como a do mar, ela veio e se foi. Alguns minutos depois outra onda. Fiquei mais alerta, seria o trabalho de parto começando? Tentei dormir novamente, mas outra onda começou. Percebi que as ondas eram ritmadas e que não estavam distantes uma da outra. Resolvi acordar meu esposo e juntos contamos os intervalos, que eram de 8 em 8 minutos.

Um misto de sentimentos inundou meu corpo e meus pensamentos. Estaria perto? Veria minha
filha ainda naquele dia? Será que conseguiria ter meu tão sonhado parto domiciliar? O que a família pensaria de tudo isso, afinal eu não havia contado pra ninguém, apenas para alguns amigos mais próximos.
Lembrei então de todos os encontros de gestantes que participei, e da Renata, minha doula, dizendo que era preciso dormir e estar bem descansada para o trabalho de parto ativo. Resolvi seguir esse conselho e dei umas cochiladas até o dia amanhecer.

Acordei diferente, queria viver cada minuto daquele dia de forma intensa, como eu tinha sonhado e planejado. Tomei um café da manhã cheio de frutas e cereais integrais. Sentei ao lado do meu lindo esposo, ele pegou o violão e cantamos nossa música, aquela que havia marcado nossas vidas exatamente quando nossa filha foi concebida, na Venezuela, como missionários em terra estrangeira.

“Dame tu voz, dame tu aliento
Toma mi tiempo es para ti
Dame el camino que debo seguir
Dame tus sueños, tus anhelos
Tus pensamientos, tu sentir
Dame tu vida para vivir...”

Eu me sentia muito disposta, apesar das contrações de 6 em 6 minutos, decidi caminhar no parque, exatamente como fiz durante os 9 meses da minha gestação. Andamos 3,4 km naquela manhã, e a cada contração eu parava e encostava meu corpo no corpo do Roger. Ele se concentrava comigo, estávamos em perfeita sintonia.
Como era sexta-feira, dia de faxina, a casa estava suja e desarrumada. Era preciso fazer comida e lavar roupa e lá fomos nós, como um time, força tarefa, realizando todos os deveres domésticos. Queríamos deixar tudo pronto para o grande momento.
Comuniquei as meninas, Juliana e Regina (minhas enfermeiras obstetras), sobre as contrações e nos falamos durante todo o dia. À tarde a Jú veio até minha casa e começou a monitorar as contrações que estavam vindo de 5 em 5 minutos. Usei e abusei da bola de pilates, fiz muitos agachamentos, queria me concentrar 100% no meu parto e no meu bebê.

Lembro que li muitos e muitos relatos de parto onde as gestantes se arrependiam de não ter descansado ou se alimentado direito durante o trabalho de parto latente (1º fase). Então resolvi seguir novamente os conselhos e tirei uma soneca a tarde e me alimentei muito bem durante todo o dia.
A noite chegou e as dores começaram a ficar mais fortes. Eu já sentia as ondas irradiando para as costas. Pedi para o meu amor fazer uma massagem, e ele gentilmente colocou uma música suave, e suas mãos deslizando no meu corpo me trouxeram um grande alívio, além de muita paz e confiança.

Logo a Jú e a Regina chegaram. Trouxeram todos os seus aparatos para o parto. Ali eu entendi que elas ficariam comigo até minha linda princesa chegar. Recebi muitas massagens maravilhosas, conversamos bastante, rimos (ainda conseguia rir nessa fase), e então eu entrei no meu mundo e dali pra frente pouco me lembro dos fatos de forma cronológica. Não era mais possível distinguir as conversas. Eu ouvia as pessoas falando, mas não as entendia, apenas sentia se eram vozes tensas ou suaves, se estavam preocupadas ou se estava tudo bem.

Muitas horas se passaram, mas eu não tinha mais noção do tempo. Lembro de ter ficado ajoelhada com a cabeça encostada na cama, em pé e debruçada na bola de pilates. Andei pela casa, me encostei nas paredes, fui algumas vezes tomar uma ducha no chuveiro e então entrei na banheira inflável. Foi pensando nessa banheira que o sonho do parto domiciliar começou.
Meses atrás, eu e meu esposo pesquisávamos sobre parto, e através de uma amiga conheci a Renata, comecei a frequentar um grupo de gestantes e voltei da primeira reunião falando sobre o parto domiciliar. Lembro que meu esposo ouviu com atenção e falou: - Já estou visualizando uma banheira aqui nessa sala e nosso bebê nascendo aqui em casa! Era o incentivo que eu precisava, o apoio mais maravilhoso que eu estava buscando. Naquele momento decidimos que iríamos lutar pelo parto do nosso sonho.

O Roger entrou na banheira comigo, foi um momento muito importante como casal, eu sonhei
com essa cena. Vi tantos vídeos de partos, tantas banheiras, tantos casais maravilhosos tendo
momentos de cumplicidade ali, que me senti no meu vídeo, no meu momento. As dores vinham
fortes, mas a água, o amor e a proximidade de conhecer minha linda princesa, amenizavam qualquer
incômodo. Uma música linda e suave soava, uma luz baixa deixava o ambiente perfeito. Eu
queria viver intensamente cada segundo como se fosse o último, único e maravilhoso.

Apesar da dor eu me sentia calma, totalmente conectada e entregue aquele momento. Eu lembrava constantemente de todos os materiais que li, todos os vídeos que assisti e todas as reuniões que frequentei. Tudo isso foi essencial no momento do trabalho de parto. Como uma esfomeada eu busquei informação durante vários meses e agora me sentia totalmente saciada, confortada, tranquila e segura. Sabia que estava no local certo, com as pessoas certas e que meu corpo estava trabalhando para a chegada da minha princesa.

No meio da madrugada comecei a me sentir cansada e com sono, debruçada na cama e com meu esposo ao meu lado, cochilei várias vezes entre as contrações. Como meu corpo relaxou, as contrações começaram a se espaçar. Lembro que as meninas recomendaram que eu andasse ao redor da casa. E lá fui eu, junto com meu esposo, dar voltas e mais voltas buscando novamente as contrações. Quando elas viam eram fortes e eu comecei a vocalizar. Estava tímida no começo, mas a Renata me lembrou que seria bom eu colocar a dor para fora através da vocalização. Os sons amenizavam minha dor e
me conectavam com aquelas sensações.
Quando eu voltei para dentro da casa, me apoie no Roger e chorei. Estava com medo. A Renata me perguntou quais eram meus medos. E eu respondi que era o medo de não conseguir. Meu maior medo desde o começo era esse: não conseguir parir minha filha em casa e ter que ser transferida para o hospital. Eu não me imaginava num ambiente hostil e frio como aquele e principalmente pensar na possibilidade de ficar longe do meu esposo na sala de pré-parto ou mesmo no momento do nascimento da minha filha.

Ela me recomendou ir para o chuveiro, lavar o corpo inteiro, conversar com minha filha, pedir pra ela vir. Falar alto, vocalizar, deixar transbordar todos esses fantasmas que estavam dentro de mim. O chuveiro para mim foi uma benção. Ali eu lavei minha alma, orei, chorei, gemi de dor, vocalizei, e principalmente falei pra minha filha que ela já era um milagre desde a concepção. Juntas íamos enfrentar essa luta.
Voltei renovada, com forças para a última etapa. O dia já estava quase amanhecendo. A Regina sugeriu fazer um exame de toque para saber como estava a evolução do trabalho de parto. Foi o primeiro e último que fiz em toda a gestação. Já estava com 8 para 9 cm de dilatação e isso me deixou muito animada.
Sentei na banquetinha de parto que estava no meu quarto. Me apoiei na Jú em cada contração. Ela me sustentou por bastante tempo até minha bolsa romper. Lembro que a partir desse momento as contrações ficaram tão fortes que eu tinha a nítida sensação que ia morrer. O Roger ficou em pé na minha frente e eu várias vezes passei meus braços por entre o seu pescoço e literalmente me pendurei nele. Larguei meu corpo durante as contrações. Vocalizava, orava, clamava a Deus pra que tudo aquilo acabasse logo. Era a pior fase, a fase da transição para o expulsivo.
Fui novamente para a banquetinha. O Roger sentou numa cadeira atrás de mim, eu segurei forte nas mãos dele e então os puxos começaram a vir. Uma força involuntária chegava juntamente com as contrações e eu comecei a fazer força junto com ela. Na verdade tive que aprender a fazer força. No começo eu gritava, parava na metade, respirava, não estava me concentrando. No decorrer do processo fui aprendendo a me unir a dor e a trabalhar juntamente com meu corpo.
Tenho inveja daquelas mulheres que fazem três forças e o bebê nasce. Eu tive que fazer força por uma eternidade. Pingava suor do meu rosto e nas horas das contrações eu praticamente esmagava os dedos do meu querido esposo. Comecei a ficar preocupada porque meu bebê não vinha e eu estava extremamente exausta. Deus realmente me mandou forças da onde não tinha pra esse momento.

Finalmente as meninas começaram a ver o cabelinho do bebê, mas eu ainda não sentia ela descendo pelo meu corpo. Mais algumas forças e senti o famoso “círculo de fogo” e ela coroou. Lembro que a Jú me perguntou se eu queria colocar a mão
na cabeça do bebê, mas eu não quis, estava muito concentrada nas forças e só queria que tudo acabasse logo. Depois disso foi tudo muito rápido, logo saiu a cabeça, o corpinho e pronto, meu bebê estava nos meus braços. Que emoção foi aquele momento, ouvir aquele chorinho, sentir aquele corpinho. Eu só conseguia falar: - Minha bebê, minha bebê!
Toda a equipe estava emocionada, meu esposo chorava bastante. Tínhamos recebido do Pai o maior presente de todos, a nossa Ana Clara.
Depois disso minhas forças se foram, deitei um pouco, a placenta não estava saindo. Sugeriram que eu fosse até o banheiro e finalmente lá, depois de mais uma contração, eu pari a placenta. Que sufoco! Passar pelo parto em casa e ter que ir pro hospital pra retirar a placenta não seria nada legal.
Tive uma pequena laceração e levei alguns pontos, mas nada se compara a alegria e a grande emoção de ter tido meu bebê da forma como sonhei e me preparei. Me senti a mulher mais feliz e realizada do mundo e pude finalmente dizer pra mim e para o mundo que é possível sonhar, ir atrás e acreditar no próprio corpo.
Pra mim o maior segredo está em acreditar no parto. Ter a certeza que você não vai “tentar”,
você vai conseguir. A cesárea nunca foi uma opção pra mim, muito menos ir pro hospital. Eu trabalhei
minha mente, corpo e espírito por meses. Conversei muito com Deus embaixo do chuveiro,
chorei, tive crises e medos. Mas ao mesmo tempo eu tinha muita fé no parto que eu escolhi simplesmente
porque vi a mão de Deus guiando cada passo e sabia que Ele NUNCA faz milagres pela
metade. Deus é perfeito, completo, e Ele completou em mim tudo o que faltava.
Comecei essa jornada sem plano de saúde, sem emprego, sem local pra morar, sem móveis, sem nenhuma peça de roupa ou móveis para o meu bebê. Me senti confusa, insegura, sem perspectivas. Tive uma gestação maravilhosa e difícil. Mas Deus me deu muito mais do que eu sonhei, me cobriu de mimos, de presentes, de amigos, de todos os mínimos detalhes para a chegada da Ana Clara. Por isso eu digo hoje, vale a pena ter fé e confiar. Você verá muitos milagres acontecerem, basta descansar nos braços do Pai.



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